quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Crônicas da Minha Vida (201) + Uma festa muito estranha



.: UMA FESTA MUITO ESTRANHA :.


Crianças, muitas vezes eu contei histórias altamente inapropriadas para vocês sem nunca esconder um único detalhe sequer — OK, eu admito ter ocultado o fetiche sexual secreto da sua tia Coraline quando contei a história de como o seu tio Caio perdeu uma aposta e teve de entrar em um banheiro feminino... O ponto é: em todas às vezes que me sentei nesse sofá e contei as aventuras da minha vida antes de conhecer a mãe de vocês, nem uma vez sequer falei uma mentira — é tudo pura verdade, e é por isso que peço a vocês para acreditarem na história que contarei a seguir porque, sério, eu mesmo tenho certa dificuldade de acreditar nela.

Quando eu era apenas um simplório médico de pronto-socorro e dividia um apartamento no centro com o seu tio Patty, fui surpreendido por uma mulher muitíssimo estranha na hora do almoço, ela me segurou pelo braço antes de eu entrar na lanchonete, colocou um sorriso de derreter icebergs no rosto e me convenceu a participar de uma festa que aconteceria em um bosque nos arredores da cidade, entregou-me um panfleto com o endereço do local e desapareceu ao dobrar na esquina.

Como é sabido por vocês; eu tenho a necessidade de contar para alguém quando algo estranho desse jeito acontece comigo, então relatei o ocorrido palavra por palavra para o seu tio Patty — um erro homérico, enquanto que eu não tinha a menor intenção de aparecer na tal da festa, o seu tio Patty já estava tentando se decidir com qual roupa ia para lá.

— Não, não, não, não, não, não, você não vai me arrastar para essa insanidade!

— Mas é claro que eu vou.

Lembro-me claramente de ter soltado um suspiro derrotado na ocasião.

— Sim, você vai — e, de fato, ele me arrastou para aquele lance insano.

Crianças, vocês sabem como eu sou uma pessoa ingênua, certo? Pois então, aos meus vinte e dois anos, eu era mais ingênuo do que sou hoje em dia — de tão ingênuo, eu falhei em associar a aparência de quem havia me convidado para o evento com o tipo de evento que seria, isto é, eu fui incapaz de associar uma mulher toda de preto, cheia de pentagramas, de múltiplos piercings e com uma tatuagem do Número da Besta com uma festa cujo objetivo era exaltar um ídolo pagão. Sim, o Felipe-do-Passado é de dar pena.

Então, nós chegamos ao endereço do panfleto e nos deparamos com uma parte do bosque dominada por várias mulheres vestidas unicamente com capuzes pretos (sim, meu filho, elas estavam vestindo apenas os capuzes), cada uma delas segurava uma vela preta, andava no sentido anti-horário e orava em alguma língua esquisita que nunca ouvi em qualquer outro lugar desde então — tudo isso em cima de um pentagrama enorme desenhado na grama com tinta vermelho-sangue.

Eu bati no ombro do seu tio Patty para atrair a atenção dele, pois até então havia estado hipnotizado pela pouca roupa daquelas mulheres.

— Mano, eu curto heavy metal, curto mesmo, você sabe disso, é o meu estilo de música preferido, escuto-o desde, uh, sempre — falei. —, mas, ah, você não esta achando que isso é um tanto black metal demais?

Seu tio Patty me olhou com um sorriso malandro no rosto.

— Isso aqui é altamente black metal, mano — soltou um suspiro alegre. — Black metal, mulheres seminuas e uma evocação satânica... É como se eu estivesse vivendo a minha capa de disco preferida!

Lust in the Kingdom of God do Maithungh?

— Exatamente, mano — ele pousou a mão no meu ombro. — Tua memória está boa como sempre, hein.

— O que eu posso dizer? Eu me sinto tão perto da morte que a minha vida inteira passou diante dos meus olhos em um segundo!

Nesse momento a satanista que havia me convidado percebeu a nossa presença no bosque, toda sorridente, ela veio em nossa direção, não sei se era proposital, contudo eu me lembro de ter visto os peitos e a, uh, a caverna dela mais de uma vez... Minha filha, eu te amo, no entanto se eu ouvir você falar essa palavra que começa com “B” outra vez, vou lavar a sua boca com sabão! Ora, pois! Uma princesinha de dezesseis anos não deve falar assim!

Enfim, continuando... Ela parou na nossa frente.

— Oi! Que legal que você veio — olhou para o seu tio Patty. — E ainda trouxe um amigo! Obrigada, obrigada!

— Não há de quê.

Se não me falha a memória e, caramba, eu creio que não falha, eu me lembro de ter sentido sentimento estranho constituído de medo, ansiedade e vergonha... Com mil diabos! A mulher ia me usar para um ritual satânico e estava com os países altos e baixos à mostra! É normal eu ter me sentido assim... Não, o seu tio Patty ficou sorridente o tempo todo.

— Mas me diga... Qual é o itinerário de hoje à noite? — perguntou seu tio Patty.

— Primeiro, nós iremos terminar os cânticos sagrados, depois a Irmã Augusta lerá algumas passagens do Necronomicon, em seguida retiraremos nossas vestes de culto e iniciaremos o Ritual do Prazer de modo que nossos gemidos de adoração propaguem-se até as profundezas da cidade submersa de R’lyeh onde jaz profundamente adormecido o Grande Cthulhu.

— Que adorável!

— OK, isso é lovecraftiano demais para mim, eu estou indo embora — olhei para o seu tio Patty. — Você vem comigo, certo?

— Você só pode estar de brincadeira, mano! Acha mesmo que eu perderia uma chance única dessas de participar de um Ritual do Prazer? Mas nunca! Pode deixar que eu dou um jeito de voltar para casa sozinho e, ah, nem precisa me esperar acordado.

Eu tentei persuadi-lo a vir comigo, entretanto de nada adiantou, tendo em mente que nem mesmo o Super-homem teria como arrastá-lo para longe dali, entreguei minha caneta da sorte ao seu tio Patty e desejei que ele retornasse são e salvo.

No outro dia, surpreendi-me ao dar de cara com o seu tio Patty na cozinha, estava vestido com o pijama e — para minha felicidade, pois me culparia até o fim dos meus dias por tê-lo abandonado se algo de ruim tivesse acontecido — parecia estar em estado de plena saúde. Notei, no entanto, que ele sofria de uma coceira intensa no peito.

— Mano, levanta a camisa.

Ao levantá-la, descobrimos haver um pentagrama desenhado no seu tórax, obviamente nossa reação foi uma de espanto.

— Por Exu Belzebu! — exclamou seu tio Patty, espantado. — Eu virei judeu?

Eu lancei um olhar intimidador a ele e daí eu voltei para ao quarto, uma vez que o domingo é um dia para dormir até tarde, antes de fechar a porta, entretanto, soltei um comentariozinho irônico.

— É bom tê-lo de volta, Charlie Harper.


.: CRÔNICAS DA MINHA VIDA (200) :.

1920.
CW: Eu espero você entrar [no MSN], achando que alguém me entenderia e você rindo das minhas desgraças.
F: Ora, tem maneira melhor de lidar com essas coisas do que rindo? Você não tem como desfazer a coisa mesmo, então que dê risadas dela, porque, verdade seja dita, é engraçado.
CW: Minhas neuroses... Engraçada[s]. Céus!
F: Eu acho suas neuroses engraçadas e suas paranoias fofas.
CW: Gente, eu faço tudo para esconder as minhas neuroses, eu sou 100 vezes pior, minha irmã fala que eu vou ficar louca quando ficar mais velha... Mas, né.
F: Eu não diria louca, mas resmungona. Sabe aquelas velhas que implicam com tudo? Pois é.
CW: Não sou resmungona... Mas escondo bem minhas neuroses. Ontem eu agi no impulso e a culpa foi toda sua.
F: Acostume-se com isso, porque quando eu estiver aí, usarei meus poderes Jedi para te impulsionar a fazer tudo àquilo que você sempre quis.

1919.
F: Eu não entendo essa Síndrome de Underground que domina o mundo, pô, o povo deveria ficar feliz que aquela banda que tanto curte está fazendo sucesso.
CW: Concordo.
F: Pois é. Me dá vontade de empurrar da ponte esses moleques que curtem a banda, mas não a escutam mais porque “eles se venderam”.
CW: Se acham donos dos artistas, donos da vida pessoal deles.
F: Aham. Daí alegam que eles se tornaram capas de discos e os matam com cinco tiros. Ou pior, sobem no palco no meio do show e dão cabo do coitado.

1918.
CW: Como é uma menina indie?
F: É uma menina branca que nem uma folha de papel A4, que usa calças apertadas, All-Star vermelho, camisas pretas de uma banda que somente ela, os caras da banda e as mães dos caras da banda conhecem, que diz ser fã do Stanley Kubrick, mas nunca assistiram 2001: Uma Odisseia no Espaço, que, em certos casos, gostam de fazer safadezas com seus amiguinhos e suas amiguinhas e, finalmente, que são altamente influenciáveis pelas opiniões alheias.

1917.
CW: (manda o novo texto do blog pessoal) Sem sal ao extremo.
F: Você é viciada em sal, a sua opinião não conta.

1916.
CW: Tô com vontade de escrever no [meu] blog pessoal.
F: Vá lá. Que a tua irritação vire literatura bukowskiana.
CW: Mas é muito chato.
F: Nem todas as nossas vontades são tão divertidas quanto Cara, Cadê O Meu Carro?.

1915.
F: Eu escutei uma vozinha por aqui. Me mandou uma mensagem de áudio?
CW: Não.
F: Peraí, pegarei a placa de aniversário que Jesus me deu para me proteger desse espírito maligno.

1914.
F: Preciso me controlar, não posso roer unhas.
CW: Coloca unha postiça, duvido você roer (risos).
F: (sarcástico) Eu ficarei linda de unha postiça. Não é nem uma questão estética... OK, é uma questão estética. Está feio. Começou a me incomodar.
CW: Porra, roer unhas é muito gay, ninguém faz isso, seja macho.
F: Sabe, há caras que ficariam agoniados se você falasse algo assim para eles. Felizmente, eu sou... http://www.youtube.com/watch?v=viygfqcU3Ls.
CW: (muitos risos).

1913.
CW: (falando do Paul McCartney) Detalhe que ele já pegava a Linda quando tava com a Jane [Asher].
F: Reserva que virou titular? Sonho de toda amante.
CW: A Linda era groupie. Saiu com 326328392 músicos antes dele.
F: Deve ser muito tenso para o Paul McCartney chegar em uma roda de bar com os amigos músicos e descobrir que os caras estão discutindo se a tatuagem que a Linda tem perto da você-sabe-o-quê parece mais com uma lágrima, ou com um leão-marinho.

1912.
F: Ninguém é perfeito. Alguns trocam uma mulher LINDA de morrer como a Jane Asher por uma mediana que nem a Linda, outros apoiam o PSOL e similares, uns curtem Pet Shop Boys e ainda há aqueles que fazem textos relatando uma conversa entre dois espermatozoides.
CW: (risos).

1911.
CW: Tudo que me lembra [a] esquerda é duvidoso!
F: (risos) Por que será, hein?


0 comentários:

Postar um comentário